Atriz interpretou a memorável Maria Bruaca, na adaptação da novela Pantanal, da TV Globo; já Danny participou do filme Bacurau e de diversas peças de teatro
Por Jamerson Soares
As atrizes brasileiras Danny Barbosa, que fez a Darlene no filme premiado “Bacurau” e Isabel Teixeira, mais conhecida por interpretar “Maria Bruaca”, um dos personagens mais icônicos na adaptação da novela Pantanal, da TV Globo, protagonizaram uma roda de conversa intitulada “Atuando no Teatro, no Cinema e na TV”, que aconteceu neste sábado (19) no palco do Teatro 7 de setembro.
Antes da conversa começar, a atriz Danny começou a alongar o corpo no palco como se estivesse preparando para uma cena. Foi o ato instintivo do ofício da atriz, já que todo profissional da atuação entende que o palco é a casa onde todos devem ter reverência e compromisso. Logo depois, as duas comandaram o momento de forma interativa, como em uma espécie de talk show. O público presente prestava atenção em todos os detalhes, era possível ver a concentração e o olhar atento.
As duas começaram a se apresentar e contar suas experiências no ramo da atuação, a idade que cada uma começou a entrar nos caminhos da arte, as motivações para resistirem no ofício e o processo criativo em todos os trabalhos realizados. A infância, a adolescência, os primeiros passos no teatro e as apresentações em companhias teatrais, identidade de gênero, transgeneridade negra no teatro, a representatividade, os desafios de trabalhar informalmente por anos, autoestima e a falta dela, a instrumentalização na faculdade, foram alguns dos assuntos discutidos na roda.
Isabel Teixeira chamou a atenção ao falar sobre a criança que faz arte e a magia da origem disso tudo, que ela mesma nomeia como “quarto primordial”. Segundo a atriz, esse quarto é aquilo que nasce com todos, um sonho que é vislumbrado dentro de um quarto ou qualquer local conforme as realidades das pessoas, e que impulsiona uma energia emocional na futura profissão.
“Acredito que artista é quem ver. As pessoas acham que artistas são pessoas eleitas, especiais, com toques divinos, mas não, todos nós nascemos com essa emoção no peito, todos já estiveram nesse quarto primordial, é só manter essa conexão a longo prazo. Quem nunca sonhou dentro de um quarto, cantou no chuveiro, faltou sozinho como se estivesse falando para multidões? Eu carrego isso comigo a todo tempo, onde quer que eu esteja eu me conecto com esse lugar. É lindo”, revelou a artista.
Ela também contou que começou a vida na atuação com 10 anos, com mãe e padrasto artistas. A primeira peça que participou foi quando ainda era criança, a “Uma Aventura no Caminho até Guarujá”. “Eu adorava fazer a peça, mas era uma brincadeira”. A atriz também falou sobre a criação da Maria Bruaca e sua repercussão nas ruas, em como diversas pessoas se identificaram com ela.
“Quando fui fazer a Maria Bruaca na novela e nas minhas andanças pelo Brasil, achei muito bonito porque eu percebi que as pessoas não queriam ser como eu, a atriz, mas sim como a personagem. Ou seja, eu fiz uma personagem e eles reconheceram. E é isto que é mais lindo na profissão, as pessoas se reconhecem na humanidade daquela personagem”, disse.
Durante sua fala, Danny Barbosa relatou sua vivência enquanto mulher trans no campo das artes. Aos 7 anos, ela já sonhava castelos e brincava de fazer arte em um quintal da casa de sua família, mas não entendia. “Cresci dentro de um quintal e na frente da TV com válvula preto e branco. E aqueles atores me encantavam, eu só não sabia como chegar lá”, comentou. A primeira peça de Danny foi uma apresentação de Natal na igreja onde congregava. Fez curso de música, já tocou piano, mas quis aprender a tocar violão. Ela pisou no teatro com 12 anos.
“O curso de música me levou ao teatro. Pisei em um teatro com 12 anos e fiquei encantada. Depois fui entender que o lugar que estamos aqui e agora é um lugar de sagrado, lugar que quando a gente entra devemos deixar lá fora nossa arrogância, prepotência e vaidade”, contou Danny.
Após a conversa, foi realizado um momento de perguntas e discussões do público.
A atriz Danny Barbosa, que também é roteirista e formada em Letras, disse que a roda de conversa superou as expectativas porque houve contato íntimo com a plateia. Ela também afirmou que conversas como essas retiram o estigma de que o trabalho do ator é simples, fácil e glamouroso.
“A gente foi chamada para uma roda de conversa para falar sobre atuação. Eu e Isabel começamos no teatro e ao longo desse processo chegamos no cinema e TV. E como falar disso sem estrelismos, sem dar falsa intenção de que é tudo glamouroso, simples, fácil. Não, foram processos em alguns detalhes muito semelhantes de luta, resistência e sobrevivência. Muita gente não tem acesso ao nosso processo de construção artístico e profissional. Esse momento foi para desmistificar o ofício do ator. Fiquei muito feliz em ver que meu trabalho reflete positivamente para as pessoas”, afirmou.
Já Isabel disse que a palavra que resumiu a conversa foi ‘movimento’. “Eu amei. Acho toda essa troca uma riqueza. Porque eu me movimento do meu estado para este estado, e o que movimenta é um festival de cinema. E o festival é um ponto de partida para falar sobre outros assuntos. E quando isso acontece, é maravilhoso. Isso movimenta um país”.